A
autora, que tem diversas obras publicadas pelo Grupo Saraiva – inclusive em
formato digital –, concedeu uma entrevista para falar sobre sua
carreira, que começou com o jornalismo, sua paixão pela literatura e a
conquista dos públicos infantis e juvenis.
Giselda, sua formação é em Jornalismo. Quando e o que a levou a iniciar sua carreira como escritora de livros infantis e juvenis? Em 1972, foi lançada pela Editora do Escritor, de São Paulo/SP, a primeira antologia de literatura infantil, chamada Estórias, Bichos! A organizadora da coleção, a escritora Eico Suzuki, me convidou para escrever um texto ao qual dei o nome de “Floresta em chamas”. Em 1974, saiu meu primeiro livro infantil, Coruja Lelé, pela mesma editora. Daí, foi um big bang: me apaixonei pela literatura infantil e juvenil e não parei mais. Não se esqueçam da Rosa foi publicado em 2002 e já alcança mais de 65.000 exemplares vendidos, seguido do livro O mistério mora ao lado, lançado em 2001 com mais de 60.000. Vários títulos de sua autoria foram premiados, como Awankana: o segredo da múmia inca, vencedor do prêmio Jabuti em 1985. Qual a razão desse sucesso? Comecei a escrever aos nove anos pequenas histórias. Eu tive a sorte de, no curso colegial, ter um professor de Português que também era escritor. Ele dizia: "Escritor não diz que vai ser, escritor escreve". Ele me fez escrever uma redação por dia, durante três anos... Foram mais de mil! Na faculdade de jornalismo tive outro extraordinário professor que lia minhas redações e dizia: "Minha filha, você tem de ouvir o ritmo da frase". Aprendi também que jornalista deve ter uma linguagem objetiva e clara ao abordar os temas. Isso foi fundamental para quem escreve para crianças e jovens. Além de que, a literatura juvenil que abrange um público adolescente é justamente o campo ideal para se abordar temas os mais variados. Tenho também uma curiosidade inata e, antes de escrever meus textos, faço muitas pesquisas e até entrevistas com especialistas na área. Quais são os autores que lhe inspiraram e inspiram até hoje? Fui, desde criança, uma leitora voraz. O primeiro livro que eu li foi Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, do qual li a obra toda. Daí, tudo o que me caía nas mãos, eu lia: Machado de Assis, Guimarães Rosa, e outros grandes autores brasileiros, sem falar nos livros de autores estrangeiros traduzidos para o português, como Balzac, Guy de Maupassant, Albert Camus, autores russos como Dostoiévski etc. Lia poesia também, tanto brasileira quanto traduzida. Em sua opinião, qual é o papel da família e da escola na formação de leitores? Uma casa onde as pessoas leem é um bom começo para que a criança seja estimulada a ler. A família que assina um jornal, revistas, que tem uma biblioteca, é um ótimo exemplo – eu, por exemplo, costumo dizer que minha casa era uma ilha cercada livros por todos os lados, inclusive os de História do Brasil que minha mãe adorava e que ainda guardo com carinho, livros raros, esgotados. A escola também tem um grande papel estimulador da leitura desde que o texto seja adequado para a faixa etária a que se destina. Durante toda a minha vida de autora tive e tenho o maior prazer de fazer palestras pelo Brasil, tanto em escolas públicas quanto particulares onde meus livros são adotados. Tenho até uma biblioteca com o meu nome dado pelos alunos a cuja inauguração compareci – os alunos perfilados no pátio cantando o hino nacional foi uma das maiores emoções da minha vida: fiquei arrepiada. Alguns de seus livros já podem ser encontrados em formato digital. Você vê esse avanço como um incentivo à leitura? Acho legal, já que a garotada adora essa coisa toda digital. E até os bem pequenos já sabem mexer com os tablets da vida. Mas o livro impresso não pode acabar: não há o que substitua a sensação do papel, o cheiro de tinta nova – quando um livro novo meu chega, é como um filho que precisa ser embalado. Já dormi com livro novo debaixo do travesseiro: ele é o meu bebê. Hoje, sua obra abrange mais de 100 títulos. Quais são as técnicas de linguagem que você utilizou para cativar jovens leitores durante esses 40 anos de produção literária? Uso um tipo de metalinguagem, mesclando o erudito com o coloquial, falado pelos jovens. Evito muita gíria porque ela varia de região a região do país e também porque ela envelhece o texto. Acho que escrevendo durante tanto tempo já adquiri uma certa destreza nisso, além de procurar sempre escrever sobre assuntos os mais variados que interessam aos jovens. O que significa para você o ato de escrever? Escrever para mim sempre foi um ato de paixão. Quando meu pai perguntou o que eu queria ser quando crescesse, e respondi, sem titubear: “escritora”. Ele respondeu: “Então você tem de ler muito”. Foi o que eu fiz. Mas não basta isso: o escritor, como todo artista criador (o pintor, o compositor, o poeta) nasce com esse dom. Mas não basta isso: é preciso muito trabalho, burilar o possível talento. Como uma pedra bruta que precisa ser lapidada por um ourives. Está previsto para 2012 o lançamento de mais dois títulos de sua autoria pela Editora Saraiva. Conte-nos um pouco sobre eles. O livro infantil se chama Sabiá está solteira, sabiá quer se casar. Conta a história de uma sabiá-Iaranjeira que apareceu num parque aqui de São Paulo e era semi-albina, quer dizer, tinha o dorso quase branco, coisa raríssima. Como no mundo dos sabiás é a fêmea quem escolhe o macho, ela se viu rejeitada por todos com quem ela queria acasalar, isto é, ela foi vítima de “bullying”. O outro livro, juvenil, A conquista da vida, também é baseado em um fato verídico acontecido há 20 anos na Austrália: um casal milionário fez uma fertilização in vitro e deixou o embrião congelado (a técnica de congelamento de embriões começou lá) enquanto ia fazer uma longa viagem – o casal morreu durante a viagem, e o embrião, herdeiro da grande fortuna, continua congelado até hoje, porque o juiz negou que ele fosse implantado em alguma mulher da família. No meu livro, a história continua diferente, no maior suspense, da primeira à última página. Pode ser, além de literatura, um texto interessante para aulas de biologia. Fiz uma ampla pesquisa sobre o fato que está se tornando muito comum. Aqui no meu bairro, canso de ver gêmeos e trigêmeos passeando em seus carrinhos, nas manhãs ensolaradas... Como veem, o escritor tem de estar sempre atento – uma boa história pode estar numa pequena notícia de jornal ou em algo que ele escuta. Aliás, o grande escritor Balzac seguia os transeuntes pelas ruas de Paris, anotando os diálogos num caderninho. Eu converso com todo mundo e ouço histórias incríveis. A realidade às vezes cria fatos que nem a imaginação de um escritor pode conceber. Boa leitura! |
Este blog destina-se a registrar as atividades realizadas nas aulas de literatura, assim como opiniões e sugestões de pais, alunos e demais visitantes.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Giselda Laporta Nicolelis celebra 40 anos de carreira
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