“Olhos assustados
a procura, sorriso encabulado, baixinha. Fala de sua vida, de seus
livros, de seus filhos e netos, assim meio seu jeito, quase pedindo
desculpas, por terem sido só oito os filhos, vinte e tantos netos e
bisnetos, e mais de setenta os livros.
Nasceu no interior de São
Paulo, em Igarapava, em 24 de maio de 1913. Seu pai, autodidata que
falava seis línguas, inclusive árabe, foi quem despertou na escritora o
gosto pela leitura. Lembra com ternura a primeira vez em que entrou numa
biblioteca, acompanhada pelo pai. Tinha 10 anos. Seu Carlos pediu para a
bibliotecária dar um livro a sua filhinha. O livro escolhido pela
bibliotecária foi A Dama das Camélias. Muitas das situações descritas no
livro, Odette veio a entendê-las só vários anos depois.Formada no curso
Normal do Instituto de Educação Caetano de Campos, em São Paulo,
trabalhou como professora primário no Colégio de Santana durante quatro
anos. Entrou na Faculdade de Medicina, mas interrompeu o curso para ser
professora.Seus primeiros trabalhos literários foram publicados no
Jornal O Ginásio. Colaborou com suas poesias nos jornais Eco Mariano e O
Jocismo. Aos 22 anos, em 1935, publica “Tranqüilidade”, livro de
poemas, prefaciado por Correa Junior.Casa-se aos 24 anos com Leo Mott e
com os filhos começam a surgir os livros. “Aventuras no país das
nuvens”, editado em 1945, pela Editora do Brasil, foi o primeiro.
Publicou pelas Editoras Melhoramentos, Brasiliense, Paulinas, Edicon, e
outras mais. Foi co-fundadora do Centro de Literatura Infantil e
Juvenil, CELIJU. Em 1981 ultrapassou um milhão de livros publicados,
vários deles traduzidos para outras línguas e em escrita braile para
deficientes visuais.Recebeu o mais importante prêmio de literatura
infanto-juvenil, Hans Christian Andersen. Três bibliotecas paulistas têm
o nome de Odette de Barros Mott.
Faleceu em São Paulo, em 1998, com 85 anos“. [Pequena Biografia publicada nos seus livros]
Informações
autobiográficas sobre a infância de Odette de Barros Mott, cf. MINHA
VIDA DE CRIANÇA. Belo Horizonte, Editora Lê, 1994, 159 p., ilustrações
de Mariângela Haddad, com guia de leitura, biografia na primeira orelha,
Coleção Transalivre
Família de Odette de Barros MottPai:
Carlos Castilho de BarrosMãe: Antonieta Castilho de BarrosIrmãos e
Irmãs: Jandira de Barros Vaz da Rocha, Noemy de Barros, Elvenar de
Barros, Adonis de Barros, Haydée de Barros, Maria Sirdéa de Barros.
Filhos:
Maria José Mott Ruggiero, Lea Mott Ancona Lopez, Carlos de Barros Mott,
Pedro de Barros Mott, Fúlvia Mott Rosemberg, Luiz Mott, Maria Lúcia de
Barros Mott, Leone Mott Junior.
Morre Odette de Barros MottFolha de São Paulo 23-5-1998Morreu
na madrugada de anteontem , aos 84 anos, no Hospital São Camilo, em São
Paulo, a escritora Odette de Barros Mott.Autora de mais de 60 titulo de
literatura infanto-juvenil, com mais de 1 milhão de exemplares
vendidos, ela escreveu títulos como “A 8ª serie C”, “Aventura do
Escoteiro Bila” e “Justino, o Retirante”.Nascida em Iguapava (SP), em
1913, ela veio ainda menina para São Paulo. Formou-se professora no
Instituto de Educação Caetano de Campos e começou a lecionar no Colégio
de Santana.Foi como contadora de estórias para seus oito filhos entre
eles o antropólogo Luiz Mott, que sua vocação para a literatura se
revelou. Em 1935, publica um livro de poesias, “Tranqüilidade”, mas se
destacaria como escritora de obras para crianças e jovens.Seu primeiro
livro infantil, “Aventura no País das Nuvens”, foi publicado em 1949.Era
casada com Leone Mott e deixa, alem dos filhos, netos e bisnetos. Seu
corpo foi cremado no Cemitério Vila Alpina.Recebeu vários prêmios
literários, entre eles o prêmio Monteiro Lobato da Academia Brasileira
de Letras, por “Justino, o Retirante”, e o prêmio Fundação Educacional
do Distrito Federal, por “Marco e os Índios do Araguaia”.“Justino, o
Retirante” é considerado um marco no realismo na literatura
infanto-juvinil brasileira. Segundo a autora, sua intenção era chamar a
atenção dos jovens para os problemas do Nordeste. “A literatura deve
servir para integrar os jovens, não para aliena-los com historias
absurdas”, afirmou.A autora tem livros publicados por várias editoras,
entre eles Brasiliense, Moderna, Record e Atual, pela qual já vendeu
cerca de 500 mil exemplares desde 85.
LEO MOTT, o homem que fez “comercio”REVISTA KALUNGA, ano XXVI- Mar 99 – Nº 99
Na
São Paulo dos anos 30 ainda se fazia serenata. Debaixo da janela de uma
donzela, violões, flautas e violinos enchiam a noite com musicas de
Zequinha de Abreu, que fazia muito sucesso na época, mas era obrigado a
vender as partituras de suas musicas de porta em porta. Era tempo de
bonde e dos grandes casarões dos barões do café na avenida Paulista, que
começavam a experimentar o gosto amargo da decadência. Isso depois de
uma época de grande opulência, quando se acendiam charutos com notas de
50 mil reis; de um rio Tietê limpo e cheio de peixe. A rua 25 de Março
já era uma grande centro comercial, a Ponte das Bandeiras de madeira e o
Prédio Martinelli, recém-inaugurado, dominavam a cena. Uma cidade com
poucos problemas e muitas oportunidades para quem estivesse disposto a
trabalhar.E vontade de trabalhar e ganhar dinheiro era o que não faltava
à família Mott, que havia trocado a Itália pelo Brasil, quando um de
seus membros começou a ter problemas com o fascismo de Benito Mussolini.
O filho mais novo apaixonou-se logo pela cidade e ainda hoje, com 86
anos, dez filhos, 25 netos, dez bisnetos e 62 anos de carreira de
motorista, recorda com saudades de uma São Paulo, que só existe em
velhas fotografias. “Era um paraíso”, garante Léo Mott, um atacadista de
artigos de papelaria que teve a oportunidade de acompanhar o
crescimento daquela que estava condenada a ser uma das maiores cidades
do mundo.Morou em Santana e estudava no colégio Dante Alighieri. Todas
as manhãs pegava um bonde e ia até a Praça do Correio. Lá desembarcava e
entrava em outro que o levava até a Avenida Paulista. Um percurso de
aproximadamente uma hora, que hoje pode demorar muito mais se o transito
estiver complicado. “Nunca cheguei atrasado”, orgulha-se. O prefeito no
final dos anos 20 era Pires do Rio, o melhor que São Paulo já teve, na
sua opinião. “Ele só se preocupava em melhor a cidade, enquanto outros,
como Prestes Maia e Faria Lima, foram apenas políticos.”Hoje ele vive em
Dracena, interior de São Paulo, mas por 50 anos morou em uma
confortável casa no Sumaré, com 25 cômodos, que agora colocou à venda.
“Aqui era um lugar muito bonito, com todas as ruas de terra e uma vista
linda. Ainda hoje é o melhor lugar do mundo”, garante. “Tinha uma
namorada aqui perto e não podia vir quando chovia”Mott chegou ao Brasil
no final da década de 20 e não perdeu tempo. Descobriu logo as grandes
oportunidades que tinha pela frente e tratou de montar um negocio
próprio. “Não existia supermercado e quem saia na rua vendendo bananas
em uma cesta logo tinha uma quitanda. Tudo era muito fácil”, lembra. Com
dois irmãos mais velhos abriu, em 1935, a Papelaria Mott, que ficaria
sob o seu comando por cerca de 30 anos. Antes de ter a empresa, comprava
mercadoria do atacadista F. Orlandi, com quem aprendeu a trabalhar, e
distribuía para papelaria e escolas da cidade com um pequeno lucro “Eu
mesmo ia entregar a encomenda”, recorda.Sua primeira loja, que
trabalhava com produtos importados da França – tesoura era um dos itens –
teve com endereço a rua Anhangabaú, hoje avenida Prestes Maia. O
negocio não encontrou grandes dificuldades para crescer e no final do
primeiro ano de atividade os Mott conseguiram um lucro liquido de 100
mil reis, uma pequena fortuna naqueles tempos. Só para ter uma idéia,
comprava-se um alqueire de terra por mil reis. “Mas trabalhávamos mais
de 12 horas por dia”, adverte.Com dinheiro em caixa foi possível sonhar
mais alto e os Mott decidiram entrar com toda a força no ramo de
papelaria. Compraram um deposito da Antarctica, que ficava sob o Viaduto
Santa Ifigênia, e se tornaram atacadistas. Os grandes concorrentes eram
F. Orlandi, Copag, que hoje só fabrica baralhos, e Irmãos Spina. O
Brasil era carente no ramo e só produzia em grande escala caderno de
capa dura e brochuras. Quem queria coisa mais sofisticada tinha que
recorrer aos importadores, e os Mott souberam como ninguém explorar esse
filão. Foram os primeiros a importar material escolar no País, que
chegava primeiro de navio da Alemanha, França, Inglaterra, Itália e
Japão. “Também trazíamos material de escritório, como grampeadores,
perfuradores e pena para caneta. Ainda tenho um pacote de penas da
empresa de Rubem Berta, o primeiro a fabricar o produto no País”, conta.
E para quem duvida da eficiência do serviço de entrega daquele tempo,
Mott conta uma história. “Uma vez enviei uma carta aérea para a Alemanha
com um grande pedido de grampeadores e o material chegou de navio
depois de 45 dias. Todo mês eu recebia um navio com mercadoria do
Exterior”.Mott conseguiu tirar proveito até de um momento trágico da
história da humanidade: a Segunda Guerra Mundial. A história não começou
muito bem, mas terminou com uma jogada de mestre. Um representante que
ele tinha na Alemanha alertou o empresário sobre a iminência do conflito
e sugeriu a compra de um grande volume de material para escritório.
Mott não perdeu tempo e fez um imenso pedido. Para sua infelicidade, o
navio ficou retido em Hamburgo, pois corria o risco de ser afundado
pelos aliados quando estivesse atravessando o Atlântico. Para compensar,
recebeu do Japão o ultimo navio que chegou ao Brasil antes da guerra,
carregando com cerca de um papel especial chamado mino-C, que servia
para fazer copiadores para cartas e faturas. “Quando a guerra começou,
só eu tinha esse produto, pois também arrematei o que tinha na praça, e
vendi tudo com um lucro extraordinário. Comprei a 50 mil reis o pacote e
cheguei a vender por um conto de reis, vinte vezes mais”revela.Dos
Estados Unidos importou, durante a guerra, papel carbono, que tinha uma
qualidade melhor que o fabricante no Brasil e não custava muito mais
caro. Tinha um tempo de vida útil 75% maior. “Também vendi muito esse
produto”, confessa. E como mais um exemplo de que as coisas eram mais
fácies naquele tempo, Mott conta que um de seus pedidos atingiu um
valor, em dólar, muito elevado e ele não tinha como pagar à vista, como
era de costume. Enviou uma carta ao fornecedor pedindo parcelamento do
pagamento em duas vezes e depois de uma semana recebeu a resposta. “eles
enviaram um telegrama dizendo que a minha firma era idônea e que eu
poderia parcelar. O dólar custava 17 mil reais e ficou nesse preço por
dez anos”, revela. “Era muito fácil ganhar dinheiro naquela época para
quem queria trabalhar.”A papelaria Mott, que teve como grande fregueses a
Votorantin e o Moinho Santista, fechou suas portas na década de 60,
depois de 30 anos de muito sucesso. “Fiquei em uma situação tão
tranqüila que nos últimos anos do negócio me dava ao luxo de vender
apenas para pessoas que considerava simpáticas”, lembra. Mas a família
não abandonou o ramo. Aproveitando a estrutura deixada pelo pai, Pedro
Mott montou a Papelaria Gloria, que por muito tempo foi uma potencia no
ramo – hoje também já encerrou suas atividades. Léo Mott decidiu deixar
de ser empresário e virou fazendeiro. Passou a criar porco e gado em uma
fazenda em Araçariguama, cidade a 50 quilômetros de São Paulo: “Tinha
150 alqueires na região e praticamente montei esta cidade. Fiz três
loteamentos”, conta. “Fiquei nessa vida por cinco anos.”