sábado, 17 de março de 2012

Isabel Vieira responde


Você sempre gostou de escrever?
Sim. Com 12, 13 anos, eu era tímida e introvertida. Adorava fazer redações, pois achava mais fácil escrever do que falar (até hoje, aliás). Quando escrevia, as pessoas me entendiam melhor. Isso me levou a colaborar na revista infanto-juvenil Nosso Cantinho, em Campinas (SP), feita por estudantes. Aos 15 anos, passei a escrever no jornal Diário do Povo. Sempre soube que queria trabalhar com redação de textos.

Alguma pessoa a incentivou?
Um professor de português muito especial, durante o ensino médio. Ele amava literatura e transmitiu essa paixão aos alunos. Suas aulas eram tão interessantes que aprendi a gostar até de análise sintática (risos)! Ou de Os Lusíadas, um texto difícil que se tornava fácil ensinado por ele. Mas não foi só isso. Esse professor, de quem sou amiga até hoje, me fez descobrir uma aptidão que eu mesma não sabia que tinha. Vem daí meu fascínio por quem exerce essa profissão. Esse é o papel que todo mestre deveria ter na vida de seus alunos.

Qual foi seu primeiro livro? Como o escreveu?
Eu já era jornalista há vários anos e queria muito escrever histórias, mas me faltava coragem. Achava que eu não tinha imaginação. Um dia, li uma entrevista do escritor peruano Mario Vargas Llosa, de quem sou fã, que foi uma revelação. Ele dizia que era incapaz de criar uma história “a partir do nada”; precisava de fatos reais como inspiração. Pensei: “Vou tentar desse jeito”. O tema da adoção me tocava, por ter editado uma matéria sobre ele na revista Capricho, onde eu trabalhava. Pedi uma licença de três meses na Editora Abril, mas não contei a ninguém que pretendia escrever um livro. Tinha medo de não conseguir. No fim de um mês e meio, Em busca de mim estava pronto. Como deu certo, não parei mais.

Como é seu processo de criação? Você precisa de algum estímulo para criar?
Parto sempre de fatos reais – que vivi, presenciei, me contaram ou li em algum lugar. Surge uma idéia, vaga, nebulosa, mas que reconheço como o embrião de uma história. Inicio então uma pesquisa, como se fosse fazer uma reportagem jornalística: leio sobre o tema, entrevisto pessoas, faço conexões e começo a inventar a trama. Escrevo fichas para cada personagem, para a época em que se passa a história e, se possível, para o conteúdo de cada capítulo. Esse seria, digamos, o período de gestação do livro. Nunca inicio uma história sem saber o final. Tenho tudo na cabeça e nas anotações antes de sentar no computador. Quando chega esse momento, me afasto de outras atividades e me concentro no livro. Sou dispersiva e me forço a trabalhar 7 a 8 horas por dia. Corrijo muito. Começo o dia reescrevendo o trecho da véspera e -- como ensinou o escritor americano Ernest Hemingway -- só interrompo o texto num ponto em que saberei continuá-lo no dia seguinte.

Como funcionam as encomendas de livros pelas editoras?
O processo é o mesmo, só que o tema é sugerido pela editora em vez de surgir espontaneamente. Eu só aceito a encomenda se sinto afinidade com o tema; do contrário, é impossível criar. Já recusei, por exemplo, escrever histórias de terror e de ficção científica, dois gêneros com os quais não tenho facilidade para trabalhar. Mas escrevi com prazer e facilidade, entre outros, O ano em que fizemos greve de amor, Amarga herança de Leo, Um dia com as Pimentas Atômicas, A balada da lua azul e Clique para zoar.

Quais os autores que você gosta de ler?
Muitos!!! Explico tudo direitinho na matéria Uma viagem sem prazo para terminar.

Como se faz para publicar um livro? Quem escolhe as ilustrações?
Depois que o texto está pronto, você o entrega à editora, onde ele vai para as mãos de profissionais que avaliam se ele está adequado para publicação. Às vezes, pedem alguma mudança antes de aprová-lo. Então você assina o contrato e o original segue para a preparação. Nessa fase, o texto passa pela revisão de português e um ilustrador é chamado para criar as ilustrações e a capa. Há editoras que promovem encontros entre o autor e o ilustrador, o que é bom e produtivo. Outras vezes, o autor não tem contato com o ilustrador. A capa é a última coisa a ser feita. Esse processo pode demorar de três meses a um ano. Só então o livro vai para as livrarias.

Dá para viver de literatura? O que recomenda a quem sonha ser escritor?
Com raras exceções, é difícil viver de direitos autorais no Brasil. Em geral, o autor recebe de 8 a 10% das vendas, pagos a cada três ou quatro meses. A maioria dos autores tem outra atividade paralela, para garantir o arroz com feijão. Mas as dificuldades não devem desanimar quem sonha ser escritor. Fazer o que se gosta é fundamental para ser feliz. Recomendo ler muito, escrever redações e mostrá-las a quem possa dar dicas para melhorá-las. Ficar atento a concursos (uma forma de garantir a publicação) e não ter vergonha de insistir caso seja recusado por editoras. É bom lembrar que J.K. Rolling, autora de Harry Potter, ouviu muitos “não” de editores antes de fazer sucesso no mundo inteiro.

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